Amando um Roqueiro - XXVIII

Amando um Roqueiro - XXVIII

 

Depois de um tempo antes de entrar na sala escuto George dizer a Davi:

_ Porque você não some? Não desaparece, não volta para sua cidade e fica la? Não esta estudando faz tempo, não esta com nenhuma namorada, não gosta de trabalhar mesmo ou seja não tem nada que te prenda aqui!

_ Não gosto de lá, aqui é muito melhor. Tenho a banda, gosto do PubFacu, tenho várias peguetes e claro meu melhor amigo e companheiro de apartamento mora aqui. 

_ Se não gosta de la tudo bem, existem outras cidades, o Brasil é imenso ou melhor o mundo. Va para outro pais o Rock nos EUA, na Europa é bem mais forte, conheça outras bandas, outras pessoas, outros Pubs's.

_ Eu gosto daqui, estou bem aqui, não vou a lugar nenhum!

_ Não percebe que esta atrapalhando? Impedindo a felicidade do Eduardo?

_ Não, não acho. Ele sempre foi feliz comigo, sempre nos demos muito bem desde criança. Para falar bem a verdade eu acho que tudo mudou quando você apareceu. Você atrapalhou tudo. Antes ele não brigava comigo, não implicava nem queria mudar meu jeito.

_ Você não tem jeito mesmo, é um egoista sangue suga do caralh....

Percebo que George visivelmente alterado se levanta do sofa ele está com seu rosto vermelho e estufando o peito. Preciso intervir e entro na sala.

_ Esta tudo bem aqui?

Pergunto, George ja vem em minha direção pega na minha mão e diz.

_ Sim esta tudo bem, só estava dizendo que ja esta na hora de irmos embora.

_ Ainda nem comemos a sobremesa, trouxemos o sorvete, se lembra?

_ Tomamos no meu apartamento.

_ Mas nos trouxemos.

_ Eu compro outro Eduardo!

Solto da mão de George e dou um passo para trás, Davi se levanta do sofá, George passa a mão na testa e com um tom mais tranquilo após respirar fundo diz:

_ Desculpa, eu me exaltei. Tudo bem vamos tomar o sorvete e depois a gente vai, certo?

_ Eu vou pegar o sorvete.

Digo indo para a cozinha.

_ Eu vou com você.

Diz Davi.

George chega a morder os lábios, fecha o punho apertado, mas não diz nada. Tomamos o sorvete e fomos embora.

O tempo passou rápido enquanto eu me multiplicava para dar conta de tudo faculdade, trabalho, ensinar Davi a ter responsabilidade, noção de gestão orçamentária, habilidades domésticas e de higiene alem de dar atenção ao meu namorado, acalmá lo e ganhar mais tempo para ensinar mais coisas ao cabeça dura do Davi. Dezembro chegou rápido e a primeira semana foi um piscar de olhos, mas finalmente ao menos do trabalho e da faculdade eu estava temporariamente livres, quase dois meses se passaram e não tinha mais como fugir.

Era domingo ja de madrugada estava agarrado com George o recebendo depois de sua longa noite de trabalho.

_ Finalmente livre!

_ Finalmente sera meu não te deixo mais sair daqui.

_ Kkk bobo eu ja estou praticamente morando aqui, minhas coisas ja estão quase todas aqui, durmo e acordo com você quase todos os dias.

_ Não te quero praticamente, quase ou pela metade, te quero sempre, constante por inteiro, pra sempre aqui comigo! Segunda feira mesmo vou com você naquele apartamento e busco o resto de suas coisas.

_ Não aceito não como resposta e nem adio por nem mais um dia!

_ Kkkk ok ok!

Na terça feira quando Davi chega converso com ele.

_ Davi, precisamos conversar.

_ O que foi? Pelo seu tom é coisa séria. Aconteceu alguma coisa?

Pergunta Davi deixando a mochila em um sofá, tirando a camisa do uniforme jogando em outro e indo para a cozinha, vou seguindo pegando as coisas jogadas. Davi pega a garrafa de água na geladeira e ja vai virando com intenção de beber no bico, então o repreendo:

_ Ha ha ha!

Ele ja entende e vai ao armário pegar um copo.

_ Precisa decidir o que vai fazer...

_ Como assim?

_ Não vou pagar minha parte para o próximo mês, ja decidiu se vai continuar aqui?

_ Por que não?

_ Davi você sabe, eu vou morar com o George.

_ Pensei que seria só ano que vem.

_ Estamos em dezembro.

_ Ha é... Bom... Tudo bem então.

_ Davi! O que você vai fazer Davi?

Davi tira a calça e diz:

_ Agora vou tomar um banho que estou morto de cansado!

_ Davi estou falando sério!

_ Eu também.

_ Com relação ao apartamento, Davi, as contas. Se você não for continuar temos que entregar o apartamento, você sabe.

_ Relaxa não vamos entregar nada, vou encontrar outra pessoa para dividir, na verdade ja encontrei.

Diz Davi entrando no banheiro tirando a cueca e a atirando em minha cara. Naturalmente liga o chuveiro e começa seu banho.

_ Quem é esse cara Davi, você o conhece bem? É da banda? Eu conheço.

_ É o caveira, você o conhece, ele tinha ido para São Paulo, mas voltou agora e precisa de um lugar para ficar.

_ Sei... Então tudo bem com isso?

_ Sim, tudo bem.

Vou saindo e puxando a porta do banheiro para fecha la quando Davi me chama.

_ Ei!

Olho para dentro do banheiro segurando suas roupas em uma mão e a maçaneta da porta com a outra e Davi diz.

_ Vou sentir saudades, não esquece de vir me visitar.

_ Claro que não vou deixar de vir aqui, só não vou mais morar aqui, seu bobo!

_ Sabe que te amo como se fosse um irmão ne?

_ Eu tambem!

Por incrível que pareça eu pensei que tudo aquilo fosse doer mais, eu deixar Davi, ouvir ele dizer que me "amava como um irmão", mas não foi tudo muito natural e naquele momento mesmo olhando para ele ali nu na minha frente eu percebi que todo o sentimento que eu tinha por ele havia se transformado. Nenhum desejo sexual, apenas desejo de cuidar, de vê lo bem, feliz, orgulho por ele estar progredindo mesmo que a passos lentos, um carinho, um amor de irmão.

Sai dali fechando a porta deixei as coisas de Davi em seu quarto dei uma ultima olhada em seu quarto e fui para o meu arrumar minhas últimas coisas.

Ja morando com George marquei com a psicóloga que havia tratado dele e de seu pai como ja estávamos em dezembro fui em duas consultas que foram libertadoras para mim. Me sentindo mais em paz fui visitar minha mãe na minha cidade natal, apresentar formalmente George e claro conversar com os pais de Davi.

Minha mãe recebeu George muito bem em poucos minutos de conversa pareciam que se conheciam a anos. Depois fui mostrar a cidade para meu namorado, cidade pequena não havia tantas coisas. A pracinha, a igreja da pracinha, a antiga sorveteria passada a três gerações, o cemitério...

Entramos no cemitério e depois de chegarmos a cova de meu pai George me deu um pouco de espaço. E naquele momento ali sozinho desabafei. Disse tudo que estava guardado por anos em meu peito depois fui embora encontrei com George no portão ele me abraçou forte, me deu um beijo na testa e com a mão em minha cintura fomos para a casa da minha mãe.

Depois de um jantar caseiro maternal bem incrementado, afinal minha mãe estava recebendo o genro e não queria fazer feito conversamos, assistimos tv e fomos dormir. A princípio fiquei um pouco sem graça, pois era a primeira vez que trazia um homem, um namorado para a casa da minha mãe. Mas para meu espanto, confesso, minha mãe arrumou meu antigo quarto e disse para dormirmos a vontade quando entramos não havia colchão no chão George e eu nos entreolhamos rimos sem graça um para o outro trancamos a porta e deitamos em minha cama de solteiro. George sem camisa, ele é bem calorento e eu em seu peito passando a mão em sua barriga peludinha ate dormir.

Uma música começa a tocar bem baixa estou em um lugar escuro com uma névoa ao meu redor uma luz como se fosse um holofote apenas sobre mim. De repente algo começa a se aproximar, é alguém que vem andando mancando desengonçado. Era meu pai, começo a me afastar andando de "fasto" quando ele diz:

_ Espera, não se va ainda. Preciso te dizer uma coisa, preciso pedir perdão.

Neste momento eu paro uma luz toma conta de meu pai que deixa aquela forma aterrorizante de zumbi e volta a forma de quando ele era mais jovem de quando ele nós levava a shows de rock com seus cabelos longos negros, cavanhaque e pulseiras de cravos no punho. Diferente de antes sem gritaria e xingamentos meu pai agora com sua voz branda diz:

_ Me desculpa, eu não fui um bom pai, eu... Eu falhei com você quando mais precisava de mim. Eu não soube lidar com o fato de você...

_ Ser gay?

_ Ser diferente do que eu tinha pensado para você. Meu sonho era que você crescesse, casasse, constituisse uma família com filhos um, bom emprego.

_ Pai posso ter tudo isso, a diferença é que não me casarei com uma mulher e meus filhos, bom não pensei nisso ainda e nem falar sobre isso com o George, mas podemos adotar futuramente.

_ Eu sei, eu sei, mas não foi isso que pensei na época. Eu só conseguia ver como pessoas reagiriam se soubessem, as pessoas rindo, apontando na rua, zombando, nos ridicularizando, agredindo. Cada vez que eu assistia a um jornal e passava sobre uma agressão, um ataque, um abuso era você que eu via e aquilo so aumentava ainda mais meu ódio, cada piadinha homossexual que eu ouvia no trabalho, no bar só me fazia querer beber mais e mais. Eu me consumi em minha própria ignorância, em minha miopia, apodreci por dentro.

Não contemos nossa emoção e ambos começamos a chorar.

_ Pai eu...

_ Não filho eu não tenho muito tempo. Eu so queria dizer que eu te amo e desejo que você seja muito feliz ao lado de quem você escolher independe do gênero.

_ Obrigado pai, me perdoe.

_ Eu que te peço perdão, perdoe esse velho pai que infelizmente não conseguiu ser o pai que você mereceu.

_ Eu te perdoo pai.

_ Cuide bem da sua mãe.

Pediu meu pai se aproximando de mim.

_ Eu cuido.

Respondi. E abrindo os braços para me abraçar meu pai com uma voz suave, carinhosa e com os olhos escorrendo lágrimas disse:

_ Seja feliz meu filho, vou te deixar em paz e obrigado por me ajudar a encontrar a minha paz.

Abri meus braços para abraça lo e uma forte luz nos envolveu. Uma luz que vibrava amor, perdão, carinho.

Acordei no peito de meu namorado que fazia cafuné em meus cabelos carinhosamente chamando por meu nome com uma voz branda e baixa.

_ O que foi meu amor esta chorando? O que aconteceu?

 

Continua...


 

Autor: Mrpr2